segunda-feira, 27 de abril de 2015

Natália Correia comunista?


"No ano de 1975, [Natália Correia]foi expulsa, juntamente com uma amiga, de um restaurante de São Miguel por ser comunista" (pag. 257)

domingo, 26 de abril de 2015

A MEMÓRIA NÃO SE APAGA: Perseguidos pela FLA



A MEMÓRIA NÃO SE APAGA: Perseguidos pela FLA
Texto de Manuel Sousa*


Antes de iniciarmos este tópico, queríamos chamar a atenção para o facto de não caberem neste texto todos aqueles que depois de alimentarem a FLA voltaram atrás ou quebraram o seu entusiamo.
Também, alertamos para o facto de o número de pessoas alvo de perseguição por parte da FLA ser enorme de tal modo que apenas se apresenta neste trabalho uma ínfima parte das vítimas.
Daniel de Sá
Alguns dos seus textos ou foram mal aceites ou foram mesmo censurados pelo jornal “Açores”, dirigido por Gustavo Moura. Segundo ele, o artigo que foi recusado “foi levado para uma reunião da FLA em que disseram de mim (soube-o por um dos participantes, que fora redator do “Açores”) o pior que se pode imaginar.”
Foi ameaçado de morte e a sua casa teve as janelas reforçadas contra possíveis atentados à bomba.
A leitura do seguinte texto da sua autoria elucida bem o clima de terror instalado nos Açores a mando dos partidários da FLA:
“Depois de uma reunião do sindicato em Ponta Delgada, o Francisco Sousa e eu, bem como um terceiro “inimigo” da FLA que estava connosco, fomos cercados por várias dezenas de arruaceiros daquele movimento. Tivemos de ficar refugiados no edifício até à chegada da PSP. Fomos levados para as instalações da Polícia em Ponta Delgada, onde uma multidão enfurecida gritou ameaças de morte contra nós. Tentei dialogar com eles, mas a PSP não mo permitiu. Fomos trazidos à Maia por toda a força policial disponível, mais as nossas mulheres, que tinham ido também a Ponta Delgada. Viemos pelo caminho alternativo da Lagoa, porque a FLA barricara a estrada da Ribeira Grande num sítio conhecido como Caldeirão. A situação afigurava-se tão grave que, pela primeira vez, o comandante da PSP autorizou que fossem usadas armas de fogo, se necessário” .

Francisco de Sousa
O conhecido sindicalista do Sindicato dos Professores da Região Açores que foi mais tarde deputado regional eleito em lista do Partido Socialista foi também um dos alvos da FLA. O texto de Daniel de Sá, citado anteriormente, descreve bem as intimidações a que foi sujeito.

Artur Carrilho Simas Santos
Médico progressista foi agredido, em 1974, por um grupo de provocadores. De acordo com o Dr. Manuel Barbosa , “poucos dias depois, uma multidão de cerca de 4 500 pessoas, vindas de vários pontos da ilha, fez uma manifestação de desagravo”.

Carlos Fraião
Na sequência do assalto à sede do PCP de Ponta Delgada, a 19 de Agosto de 1975 foram agredidos vários militantes, tendo o automóvel de Carlos Fraião sido atirado ao mar.

Henrique Maria dos Santos
Professor na Escola Secundária da Horta, candidatou-se às eleições para a Assembleia Constituinte pelo PCP. Por várias vezes viu o seu carro ser apedrejado quando fazia o trajeto entre a Horta, onde trabalhava, e o Capelo, localidade onde residia.
Segundo o seu relato no livro “Aventura Feliz”, a FLA por diversas vezes tentou armar-lhe emboscadas, “colocando obstáculos na estrada…, chegando a colocar arames reforçados a atravessar a estrada com pingentes de ferro para me partirem o para-brisas do carro”.
Mais tarde, viu a sua casa assaltada às 2h da madrugada e dias depois na companhia de sua mulher, de Dionísio da Silva Rocha Capaz, Maria Salomé Rocha, Luís Filipe Corte Real Rego Silva, Alice Margarida de Ávila Rego da Silva, foi levado ao aeroporto tendo viajado para São Miguel a bordo de um avião militar. Desta ilha ele e os seus companheiros de destino foram remetidos para o Continente em virtude da, segundo o Comandante Chefe dos Açores, Altino Amadeu Pinto Magalhães, “inviabilidade de lhe [Henrique Maria dos Santos] garantir segurança pessoal” e pelo fato do mesmo “ na qualidade de militante do PCP, no Faial, ter sido “visado durante uma manifestação popular na cidade da Horta, em 23 do corrente [ Setembro de 1975], na qual foi pedida a sua saída da ilha”.

Manuel Barbosa
Foi forçado a deixar a Ribeira Grande a 19 de Agosto de 1975. Sobre o ocorrido, aqui deixamos um excerto da sua autoria:
“Foi nessa noite que, cerca das três horas da manhã, indo tomar o avião para Lisboa, tivemos a despedida inesperada dos mesmos terroristas (sempre acompanhados do major Afonso), que, conhecedores da nossa partida, se deslocaram da Ribeira Grande a Ponta Delgada, a 17 quilómetros de distância, para uma manifestação de desagrado. E foi entre apupos, com a bagagem roubada por eles, e sob a proteção benevolente do major Afonso, que nessa madrugada do dia 20 partimos para Lisboa, escorraçados da nossa terra, onde durante cerca de trinta anos mantivéramos com os maiores sacrifícios um exter¬nato para educação da juventude, sem o qual, no decurso de quase todo esse tempo, ela não disporia de outros recursos pedagógicos, além do ensino primário”.

Manuel António Pimentel

Por exigência de alguns lavradores terceirenses que se reuniram no Reguinho, a 18 de Agosto de 1975, o Pde. Manuel António Pimentel foi expulso da ilha Terceira, juntamente com outros três colegas (Padre Avelino Soares, Padre Olegário Paz e Padre António Moniz) “por ser um sacerdote ativo da Associação dos Padres do Prado, cujos objectivos visavam a inserção dos padres e a evangelização no meio operário. A conselho do então bispo dos Açores, D. Aurélio Granada Escudeiro, viaja até França, onde frequenta o Curso de Formação dos Padres do Prado” .

José Orlando Bretão
Orlando Bretão, natural da ilha Terceira, advogado da União dos Sindicatos de Angra do Heroísmo, viu, no dia 19 de Abril de 1976, a sua casa ser invadida, por “um grupo de caciques da FLA, entre os quais se viam dirigentes locais do CDS”, que “devassaram e destruíram objetos pessoais, a que não escaparam as bonecas e outros brinquedos da filha daquele antifascista, uma criança de sete anos” .
Para além do ato de selvajaria, os “fascistas da FLA deram-se ao luxo de apresentar um ultimato, nos termos do qual Orlando Bretão deveria abandonar a ilha”.

Angelina Balacó
A sua residência foi, a meados de Maio de 1977, alvo de dois tiros de pistola (calibre 6,65), tendo um deles entrado pela porta e outro por uma das janelas.
De acordo com o Jornal de Notícias, foi a diretora do “Liceu de Antero de Quental que fez cumprir o despacho oficial demitindo do seu cargo, por abandono, o professor José de Almeida, e ainda à sua posição contínua e intransigente contra manobras separatistas”.

Anabela Sarmento
A 17 de Junho de 1978, o MSE – Movimento Separatista Estudantil encheu de pinturas o liceu de Angra do Heroísmo, onde, para além de frases anti Portugal e anti presidente da Republica, na altura Ramalho Eanes, caluniaram os professores Anabela Sarmento , Luísa Ávila e António Duarte.
As inscrições surgiram, de acordo com o semanário Voz do Povo , “pouco depois da associação de pais dominada pela FLA ter exigido a substituição desses professores, acusando-os de propaganda antirreligiosa e de serem comunistas”.

Luísa Ávila
Profundamente católica e com preocupações sociais, foi professora de Francês e delegada Sindical. Foi uma das vítimas do separatismo da FLA que queriam que fosse afastada da escola onde lecionava.



A MEMÓRIA NÃO SE APAGA: AS BOMBAS DA FLA

A MEMÓRIA NÃO SE APAGA: AS BOMBAS DA FLA
Texto de Manuel Sousa*


Introdução
Num comunicado publicado recentemente, a propósito das comemorações do aniversário da manifestação de 6 de Junho de 1975, a FLA afirma que “não é um partido político. Não sustenta nenhuma ideologia ou forma particular de idealismo partidário. Não produz orientações nem de esquerda nem de direita. Não é uma organização formalmente constituída. Não apoia ações de desordem pública ou de recurso à violência”.
As afirmações constantes no parágrafo anterior poderiam levar à conclusão de que a FLA de hoje pouco tem a ver com a que atuou durante e alguns anos após o Verão Quente de 1975 se não fosse prática da FLA proclamar uma coisa e não agir em conformidade.
Com efeito, basta ler as afirmações dos seus principais dirigentes aos diversos órgãos de comunicação social ou ao seu jornal oficioso “O Milhafre” ou conhecer o percurso político dos seus líderes e principais apoiantes para facilmente se confirmar que a FLA foi uma organização de extrema-direita, com líderes ligados à ditadura de Salazar e apoiada e dirigida (?) por estrangeiros ligados a organizações terroristas, como é o caso da OAS, de França.
Quanto ao não apoio a ações de desordem pública, os factos ocorridos entre 1975 e 1979 também demonstram o contrário. Daniel de Sá , sobre o qual não recai qualquer suspeita de preferências esquerdistas ou de ideologia comunista, a propósito da atividade da FLA escreveu:
“Foram postas bombas artesanais feitas com botijas de gás, várias pessoas foram agredidas, automóveis queimados, a sede de alguns partidos e a casa da família do Jaime Gama incendiada. (Os primeiros incendiários foram extremistas de esquerda, que pegaram fogo à sede do Movimento para a Autodeterminação do Povo dos Açores, antecedente “legal” da FLA, fundado por gente do PPD.) Quando o diretor do “Açores” arrefeceu o seu apoio à causa também apanhou com uma bomba em casa por represália, bem como Américo Natalino de Viveiros, secretário do governo regional, pelo mesmo motivo.”
Não pretendendo ser exaustivos, apresentam-se, a seguir, alguns exemplos da atividade terrorista da FLA.

As Bombas da FLA

A 4 de Novembro de 1975 rebentou uma bomba na cerca do Comando Naval dos Açores e a 6 de Novembro rebentou outra, no pátio da casa de Francisco Macedo, conhecido dirigente do Partido Socialista de Ponta Delgada. Não havendo vítimas humanas a registar, o estrondo foi ouvido numa grande área da cidade de Ponta Delgada e partiu vidros da residência daquele socialista e das casas vizinhas e provocou estragos de pouca monta no automóvel daquele militante socialista.
Embora sem citar qualquer nome, num comunicado publicado no jornal Açores , a 7 de Novembro de 1975, a Juventude Socialista refere que “os acontecimentos dos dias 4 e 6, inserem-se na atividade criminosa desenvolvida por um certo grupelho que à boa maneira fascista renuncia aos métodos democráticos próprios da sociedade em que queremos viver, para optar pelos métodos ditatoriais de alienação, manipulação e intimidação pela violência, próprios da sociedade que eles pretendem construir: a sociedade totalitária”.
A 17 de Novembro de 1975, a sede do Partido Socialista de Ponta Delgada é atacada à bomba, tendo sido danificada a porta de acesso, as vidraças do edifício e de outros vizinhos. O Jornal Açores do dia seguinte salientou o facto de a notícia ter sido dada uma hora depois pelo Rádio Clube Português.
A 21 de Novembro de 1976, rebentou um engenho explosivo de fabrico caseiro, que foi atirado da rua para o jardim do Palácio da Conceição, residência do Ministro da República Galvão de Figueiredo, tendo havido alguns danos materiais. De acordo com um comunicado do Governo Regional dos Açores, publicado na edição de 22 de Novembro do Diário dos Açores , o ataque bombista colocou em risco a vida do “guarda da PSP de serviço ao Palácio da Conceição, que se encontrava a curta distância, no momento da deflagração do engenho, dentro do jardim.
A 15 de Abril de 1978, rebentou uma bomba junto da residência de Milton Morais Sarmento , o qual, de acordo com o jornal Bandeira Vermelha , havia assinado “um comunicado da UDP denunciando os terroristas da FLA”.
A 28 de Outubro de 1978 rebentou na residência do diretor do jornal Açores uma bomba que segundo José Ricardo, do semanário “O País” , “não vitimou nem Gustavo Moura nem a sua família, apesar dos elevados prejuízos que causou.
Na madrugada de 29 de Janeiro de 1979, foram cometidos dois atentados bombistas, um que destruiu o automóvel de Américo Natalino Viveiros e outro que causou prejuízos nos móveis e numa casa do Dr. Francisco de Bettencourt , nas Furnas. Em ambos os casos o engenho explosivo usado era artesanal, sendo constituído por uma bilha de gás butano, das de 5 kg, carregada de pólvora e de explosivo plástico.
Aqueles atentados foram condenados pela Comissão Coordenadora Regional do Partido Socialista e pelo Governo Regional dos Açores que em nota oficiosa, publicada no Açoriano Oriental mencionava que “O terrorismo é um dos mais tristes sinais dos tempos em que vivemos. Linguagem dos que rejeitam a liberdade para defender as suas opiniões, o terrorismo invalida e conspurca quaisquer propósitos que pretenda servir, pois segundo os critérios da sã moralidade, que se aplicam também à ação política, os fins não justificam os meios”.
No dia 31 de Janeiro de 1979, o Correio dos Açores divulga um comunicado da UDP onde esta organização condena os atentados bombistas contra a viatura de Natalino de Viveiros, a residência do Dr. Francisco Bettencourt e contra o diretor do jornal Açores e denuncia o facto de “Mota Amaral, o Governo Regional dos Açores e a direção Regional do PSD ajudaram a criar e a alimentar um monstro que não conseguem controlar e que acabará por os ajudar a destruir”.
A 31 de Maio de 1979, o jornal Açoriano Oriental noticiava que no dia anterior, a polícia Judiciária prendeu o cidadão francês Paul Raingeard de La Blétiere , conselheiro jurídico e comercial, sob a acusação de atividades terroristas. Esta prisão sucedeu na sequência da de José Humberto da Costa Patrício ocorrida no dia 22 do referido mês, também acusado de envolvimento em atividades terroristas. No mesmo jornal, é referido o facto do madeirense, Eduardo Mendonça, sem qualquer profissão conhecida, que se encontrava em São Miguel, pelo menos desde o verão de 1978, se encontrar a monte, contra o qual existiam vários mandatos de captura por ser suspeito de envolvimento em atividades terroristas.
De acordo com o que se pode ler numa crónica de Vamberto Freitas primeiro publicada no Diário de Notícias e transcrita no Jornal Açores em 15 de Abril de 1982, Blétiere foi “considerado por elementos próximos da FLA como sendo o cérebro do separatismo nos Açores, um dos estrategistas máximos do movimento no arquipélago”. Noutro passo do mesmo texto também se afirma que Blétiere, que havia sido “transferido para Portugal no início da década de 60 quando o exército e os serviços secretos franceses correram com a organização do seu país após outra tentativa de assassínio contra De Gaule “, depois de uma reunião em Londres “chegou aos Estados Unidos com José de Almeida para fundar e dirigir o governo clandestino da FLA em Fall River, Massachusetts”.

25 de Abril de 2015