domingo, 26 de abril de 2015

A MEMÓRIA NÃO SE APAGA: Perseguidos pela FLA



A MEMÓRIA NÃO SE APAGA: Perseguidos pela FLA
Texto de Manuel Sousa*


Antes de iniciarmos este tópico, queríamos chamar a atenção para o facto de não caberem neste texto todos aqueles que depois de alimentarem a FLA voltaram atrás ou quebraram o seu entusiamo.
Também, alertamos para o facto de o número de pessoas alvo de perseguição por parte da FLA ser enorme de tal modo que apenas se apresenta neste trabalho uma ínfima parte das vítimas.
Daniel de Sá
Alguns dos seus textos ou foram mal aceites ou foram mesmo censurados pelo jornal “Açores”, dirigido por Gustavo Moura. Segundo ele, o artigo que foi recusado “foi levado para uma reunião da FLA em que disseram de mim (soube-o por um dos participantes, que fora redator do “Açores”) o pior que se pode imaginar.”
Foi ameaçado de morte e a sua casa teve as janelas reforçadas contra possíveis atentados à bomba.
A leitura do seguinte texto da sua autoria elucida bem o clima de terror instalado nos Açores a mando dos partidários da FLA:
“Depois de uma reunião do sindicato em Ponta Delgada, o Francisco Sousa e eu, bem como um terceiro “inimigo” da FLA que estava connosco, fomos cercados por várias dezenas de arruaceiros daquele movimento. Tivemos de ficar refugiados no edifício até à chegada da PSP. Fomos levados para as instalações da Polícia em Ponta Delgada, onde uma multidão enfurecida gritou ameaças de morte contra nós. Tentei dialogar com eles, mas a PSP não mo permitiu. Fomos trazidos à Maia por toda a força policial disponível, mais as nossas mulheres, que tinham ido também a Ponta Delgada. Viemos pelo caminho alternativo da Lagoa, porque a FLA barricara a estrada da Ribeira Grande num sítio conhecido como Caldeirão. A situação afigurava-se tão grave que, pela primeira vez, o comandante da PSP autorizou que fossem usadas armas de fogo, se necessário” .

Francisco de Sousa
O conhecido sindicalista do Sindicato dos Professores da Região Açores que foi mais tarde deputado regional eleito em lista do Partido Socialista foi também um dos alvos da FLA. O texto de Daniel de Sá, citado anteriormente, descreve bem as intimidações a que foi sujeito.

Artur Carrilho Simas Santos
Médico progressista foi agredido, em 1974, por um grupo de provocadores. De acordo com o Dr. Manuel Barbosa , “poucos dias depois, uma multidão de cerca de 4 500 pessoas, vindas de vários pontos da ilha, fez uma manifestação de desagravo”.

Carlos Fraião
Na sequência do assalto à sede do PCP de Ponta Delgada, a 19 de Agosto de 1975 foram agredidos vários militantes, tendo o automóvel de Carlos Fraião sido atirado ao mar.

Henrique Maria dos Santos
Professor na Escola Secundária da Horta, candidatou-se às eleições para a Assembleia Constituinte pelo PCP. Por várias vezes viu o seu carro ser apedrejado quando fazia o trajeto entre a Horta, onde trabalhava, e o Capelo, localidade onde residia.
Segundo o seu relato no livro “Aventura Feliz”, a FLA por diversas vezes tentou armar-lhe emboscadas, “colocando obstáculos na estrada…, chegando a colocar arames reforçados a atravessar a estrada com pingentes de ferro para me partirem o para-brisas do carro”.
Mais tarde, viu a sua casa assaltada às 2h da madrugada e dias depois na companhia de sua mulher, de Dionísio da Silva Rocha Capaz, Maria Salomé Rocha, Luís Filipe Corte Real Rego Silva, Alice Margarida de Ávila Rego da Silva, foi levado ao aeroporto tendo viajado para São Miguel a bordo de um avião militar. Desta ilha ele e os seus companheiros de destino foram remetidos para o Continente em virtude da, segundo o Comandante Chefe dos Açores, Altino Amadeu Pinto Magalhães, “inviabilidade de lhe [Henrique Maria dos Santos] garantir segurança pessoal” e pelo fato do mesmo “ na qualidade de militante do PCP, no Faial, ter sido “visado durante uma manifestação popular na cidade da Horta, em 23 do corrente [ Setembro de 1975], na qual foi pedida a sua saída da ilha”.

Manuel Barbosa
Foi forçado a deixar a Ribeira Grande a 19 de Agosto de 1975. Sobre o ocorrido, aqui deixamos um excerto da sua autoria:
“Foi nessa noite que, cerca das três horas da manhã, indo tomar o avião para Lisboa, tivemos a despedida inesperada dos mesmos terroristas (sempre acompanhados do major Afonso), que, conhecedores da nossa partida, se deslocaram da Ribeira Grande a Ponta Delgada, a 17 quilómetros de distância, para uma manifestação de desagrado. E foi entre apupos, com a bagagem roubada por eles, e sob a proteção benevolente do major Afonso, que nessa madrugada do dia 20 partimos para Lisboa, escorraçados da nossa terra, onde durante cerca de trinta anos mantivéramos com os maiores sacrifícios um exter¬nato para educação da juventude, sem o qual, no decurso de quase todo esse tempo, ela não disporia de outros recursos pedagógicos, além do ensino primário”.

Manuel António Pimentel

Por exigência de alguns lavradores terceirenses que se reuniram no Reguinho, a 18 de Agosto de 1975, o Pde. Manuel António Pimentel foi expulso da ilha Terceira, juntamente com outros três colegas (Padre Avelino Soares, Padre Olegário Paz e Padre António Moniz) “por ser um sacerdote ativo da Associação dos Padres do Prado, cujos objectivos visavam a inserção dos padres e a evangelização no meio operário. A conselho do então bispo dos Açores, D. Aurélio Granada Escudeiro, viaja até França, onde frequenta o Curso de Formação dos Padres do Prado” .

José Orlando Bretão
Orlando Bretão, natural da ilha Terceira, advogado da União dos Sindicatos de Angra do Heroísmo, viu, no dia 19 de Abril de 1976, a sua casa ser invadida, por “um grupo de caciques da FLA, entre os quais se viam dirigentes locais do CDS”, que “devassaram e destruíram objetos pessoais, a que não escaparam as bonecas e outros brinquedos da filha daquele antifascista, uma criança de sete anos” .
Para além do ato de selvajaria, os “fascistas da FLA deram-se ao luxo de apresentar um ultimato, nos termos do qual Orlando Bretão deveria abandonar a ilha”.

Angelina Balacó
A sua residência foi, a meados de Maio de 1977, alvo de dois tiros de pistola (calibre 6,65), tendo um deles entrado pela porta e outro por uma das janelas.
De acordo com o Jornal de Notícias, foi a diretora do “Liceu de Antero de Quental que fez cumprir o despacho oficial demitindo do seu cargo, por abandono, o professor José de Almeida, e ainda à sua posição contínua e intransigente contra manobras separatistas”.

Anabela Sarmento
A 17 de Junho de 1978, o MSE – Movimento Separatista Estudantil encheu de pinturas o liceu de Angra do Heroísmo, onde, para além de frases anti Portugal e anti presidente da Republica, na altura Ramalho Eanes, caluniaram os professores Anabela Sarmento , Luísa Ávila e António Duarte.
As inscrições surgiram, de acordo com o semanário Voz do Povo , “pouco depois da associação de pais dominada pela FLA ter exigido a substituição desses professores, acusando-os de propaganda antirreligiosa e de serem comunistas”.

Luísa Ávila
Profundamente católica e com preocupações sociais, foi professora de Francês e delegada Sindical. Foi uma das vítimas do separatismo da FLA que queriam que fosse afastada da escola onde lecionava.