sábado, 27 de maio de 2023

Faz sentido apresentar, nos Açores, um livro sobre a repressão no Estado Novo?


az sentido apresentar, nos Açores, um livro sobre a repressão no Estado Novo?

Se tivéssemos em conta o que se ouve cada vez mais, isto é, que “antigamente é que era bom”, havia mais respeito e que agora é que estamos mal e que nos Açores não houve perseguições políticas e que até a PIDE por cá usava meios mais suaves, apenas dava conselhos aos que tentavam contestar, não fazia qualquer sentido apresentar um livro sobre uma jovem estudante que foi detida por aquela polícia política, levada para a prisão de Caxias e torturada barbaramente, tendo sido impedida de dormir durante cerca de 450 horas
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Faz todo o sentido estarmos a apresentar o livro “Gente comum uma história na PIDE”, da autoria de Aurora Rodrigues porque não podemos deixar que apaguem a memória e porque tem sido branqueada a história da repressão durante o regime fascista de Salazar e Caetano.

Quantos nesta sala conhecem a história da oposição ao Estado Novo nos Açores? Quantos conhecem os nomes dos açorianos que foram perseguidos e presos por discordarem da ditadura?

Quem foi António Luís Lourenço da Costa? Quem foi Carlos Eugénio Ferreira? Quem foi João Guilherme Rego Arruda? Quem foi José Machado e Melo?

António Luís Costa, natural de Angra do Heroísmo, fotógrafo, morreu com 58 anos de idade na Prisão daquela cidade.
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Carlos Eugénio Ferreira, estufeiro na Fajã de Baixo, natural de São Roque, vítima de maus-tratos, morreu com 33 anos de idade, na Casa de Saúde de São Rafael, depois de ter passado pelo Depósito de Presos da Fortaleza de São João Batista de Angra do Heroísmo.

João Guilherme Arruda, natural da freguesia de Santo António, morreu com a idade de 20 anos, no dia 25 de abril, baleado na cabeça por uma das balas disparadas pela PIDE.

José Machado e Melo, sapateiro, de Ponta Delgada, morreu aos 45 anos de idade quando se encontrava sob prisão no Hospital Militar de Angra do Heroísmo.

Felizmente, foram muitos os resistentes ao Estado Novo que sobreviveram às prisões e torturas e que têm ou tiveram oportunidade para contar as barbaridades cometidas por um regime que dizia seguir os valores do cristianismo, como é o caso de Aurora Rodrigues.

Quem é Aurora Rodrigues?

Aurora Rosa Salvador Rodrigues, nasceu a 20 de janeiro de 1952, em Vale da Azinheira, Minas de São Domingos e é magistrada jubilada do Ministério Público.

Após o seu ingresso na Faculdade de Direito de Lisboa, que ocorreu em 1969, juntou-se ao MRPP, em 1972, no seguimento do assassinato, pela PIDE, do estudante Ribeiro Santos.

A 3 de maio de 1973, com 21 anos de idade, foi presa pela PIDE, tenho sido libertada a 28 de julho do mesmo ano, depois de ter sido submetida a 450 horas de tortura de sono, tortura de estátua, tortura de afogamento e a espancamentos.

Curiosamente voltou a ser presa pelo COPCON a 28 de maio de 1975 na sequência da proibição do MRPP participar nas eleições para a Assembleia Constituinte.

Em 1977, abandonou toda a militância partidária.

Entre 2009 e 2012, foi presidente de secção de Évora do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público.

O livro que hoje é apresentado, em Ponta Delgada, é uma reedição, da Edições Parsifal, enriquecida com um apenso documental aumentado, foi editado pela primeira vez em 2011, tendo sido apresentado na prisão de Caxias no dia 2 de fevereiro daquele ano.

Por que razão, decidiu Aurora Rodrigues, contar parte da sua vida, nomeadamente as suas prisões antes e depois do 25 de abril de 1974?

“Precisava de o fazer, porque há deveres de memória, para que não se construa sobre o esquecimento uma sociedade comum, para que não se desbarate a dimensão da esfera pública e para que não se perca o sabor da vida.”

26 de maio de 2023
Teófilo Braga

sábado, 24 de dezembro de 2022

Candidatos às eleições reguinais de 1976

Candidatos às primeiras eleições Regionais 27 de junho de 1976 A União, 22 de maio de 1976