terça-feira, 24 de julho de 2018

Os primeiros tempos do MRPP nos Açores (2)


Os primeiros tempos do MRPP nos Açores (2)

No texto anterior, demos a conhecer as primeiras atividades do MRPP nos Açores, sobretudo na ilha Terceira. Hoje, concluímos com a referência a algumas iniciativas promovidas por aquela formação política até 1980.

A 6 de junho de 1975, foram presos, em Angra do Heroísmo, a mando do COPCON José Henrique Ornelas e Teresa Rosmaninho que foram transportados para a prisão de Caxias pela Força Aérea Portuguesa.

De acordo com a União de 12 de junho de 1975, o MRPP procedeu a uma coleta de fundos, em Angra do Heroísmo, a favor dos desempregados da Florestal, tendo a quantia obtida sido entregue ao trabalhador Barrela, das Fontinhas.

Como forma de protesto pelas prisões dos militantes do MRPP, aquele partido organizou em Lisboa várias manifestações. De acordo com a União, de 17 de junho de 1975, numa destas manifestações os participantes desfilaram pela “baixa” rumo a S. Bento, onde forte dispositivo militar vedava os acessos. Entre os manifestantes quatro militares fardados empunhavam bandeiras”.

A libertação dos dois militantes do MRPP referidos ocorreu a 18 de julho de 1975, tendo o seu regresso, à Ilha Terceira, sido divulgado através de uma notícia da responsabilidade do Comité da Terceira daquele partido, publicada no jornal A União de 4 de agosto.

A 22 de agosto, o jornal A União, anuncia uma conferência de imprensa para o dia seguinte por parte dos “simpatizantes do MRPP na Terceira” com o objetivo “de expor a sua posição face à situação política atual, mais concretamente no que respeita aos Açores”.

De acordo com uma notícia da BBC, de 23 de agosto de 1975, transcrita pelo jornal Açores no dia seguinte, numa conferência de imprensa o MRPP defendeu a realização imediata de eleições “para que fosse formado um governo popular, por sufrágio universal”. Ainda segundo a mesma fonte, o referido grupo de esquerda ter-se-á juntado “aos pedidos de independência para o arquipélago”, vindo o mesmo na sequência de pedido semelhante feito no mês anterior por um grupo clandestino de direita, a Frente de Libertação dos Açores”.

A 9 de junho de 1976, integrado na campanha para as eleições para a Assembleia Regional dos Açores que se realizaram no dia 27 de junho, o MRPP realizou um comício no Cine São Pedro, em Ponta Delgada, com a presença de Arnaldo Matos, secretário-geral do partido. O comício foi boicotado por separatistas, tendo os militantes e simpatizantes saído do local com proteção policial.

Nas referidas eleições concorreram o PPD/PSD que obteve 53,83% dos votos, o partido socialista que obteve 32,82 % dos votos, o CDS/PP que obteve 7,55% dos votos, o PCP que obteve 2,17% dos votos, o MRPP que teve 638 votos (0,58%) e o MES que apenas obteve 0,15% dos votos.

A 26 de dezembro de 1976, em Congresso, o MRPP passou a designar-se Partido Comunista dos Trabalhadores Portugueses, usando a sigla PCTP/MRPP. Neste congresso a Zona dos Açores esteve presente através de Vitalino Fagundes, secretário daquele órgão, e de Rocha Pereira, controlador de tráfego aéreo no Aeroporto de Santa Maria.

Nas eleições para a Assembleia da República realizadas em 1980 foi cabeça de lista pelo PCTP-MRPP Pedro Albergaria Leite Pacheco. Naquele ato eleitoral, ganho pelo PSD com 68 663 votos (57, 03%), a APU obteve 3 761 votos (3,05%), a UDA/PDA, 1876 votos (1,56%) e o MRPP 590 votos (0,49%).

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31580, 25 de julho de 2018, p. 17)

terça-feira, 26 de junho de 2018

Os primeiros tempos do MRPP nos Açores (1)


Os primeiros tempos do MRPP nos Açores (1)

O MRPP- Movimento Reorganizativo do Partido do Proletariado foi fundado, em Lisboa, a 18 de setembro de 1970 e o seu órgão central, o jornal “Luta Popular” saiu pela primeira vez em 1971.

Perseguido pela ditadura antes do 25 de abril de 1974, havendo pelo menos uma presa política açoriana que esteve na prisão de Caxias, após aquela data teve o primeiro preso político, José Luís Saldanha Sanches, diretor do “Luta Popular”, em virtude de o jornal ter publicado, a 30 de maio de 1974, um texto apelando aos soldados para que não embarcassem para as colónias.

A legalização do MRPP só ocorreu a 18 de fevereiro de 1975 e no mês seguinte a sua atividade foi suspensa. Com efeito, a 19 de março, o jornal “A União” noticia a suspensão, pelo Conselho da Revolução, de três partidos políticos, entre eles o MRPP (os outros foram o PDC-Partido da Democracia Cristã e a AOC – Aliança Operária e Camponesa).

De acordo com o Conselho da Revolução tal facto deveu-se ao seu contributo “para a perturbação da ordem pública ou desrespeito ao programa do MFA, com prejuízo para a própria disciplina das forças armadas”.

Em resposta à decisão do Conselho da Revolução, o MRPP considerou a medida antidemocrática, sendo uma tentativa de, através do silenciamento do partido, calar a voz do movimento operário patriótico e antifascista.

A 27 de maio de 1975, o Conselho da Revolução voltou à carga e decidiu calar a voz do MRPP, tendo no dia seguinte os militares do COPCON, comandados por Otelo Saraiva de Carvalho, prendido 400 militantes daquele partido, a maioria em Lisboa.

Até ao momento, não temos uma data precisa para registar o início da atividade organizada do MRPP nos Açores, sendo a primeira notícia a que tivemos acesso relativa ao mês de maio de 1975.

Um grupo de simpatizantes do MRPP de Angra convocou um comício para o dia 31 de maio de 1975, a realizar pelas 21 horas, no Liceu de Angra do Heroísmo. O objetivo principal do comício foi dar a conhecer o partido que, segundo os organizadores, “o Povo da nossa Ilha não conhece ainda, ou conhece mal”. O convite à comparência foi publicado no jornal A União no dia do comício e na véspera do mesmo.

A 31 de maio de 1975, o MRPP realizou-se o comício que ocorreu após uma conversa entre um dirigente do partido e o Governador Civil, Dr. Oldemiro Figueiredo, que terá sugerido que no mesmo não fossem abordadas quaisquer divergências com o Movimento das Forças Armadas.

A tentativa de evitar que o MRPP divulgasse os seus pontos de vista e as discordâncias com o rumo dos acontecimentos no referido comício, realizado no Ginásio do Liceu de Angra do Heroísmo, não surtiu qualquer efeito e a prova é que o PCP emitiu um comunicado sobre o mesmo, que foi publicado no Diário Insular de 4 de junho de 1975 a criticar duramente as orientações daquele partido.

No seu comunicado intitulado “A reação nos Açores arranja novos aliados”, a Comissão Distrital de Angra do Heroísmo do PCP compara o MRPP aos grupos separatistas e alerta “todos os trabalhadores, todos os que querem um Portugal verdadeiramente livre e democrático, todos os que querem construir um verdadeiro socialismo, para estarem atentos a todas as manobras da reação e aumentarem a vigilância popular contra a reação, a sabotagem económica e todas as manobras que visem quebrar a união do povo com o MFA”.

No mesmo comunicado pode ler-se, também, o seguinte:

“Em S. Miguel, a reação criou os seus grupos terroristas e fascistas como a FRIA e a FLA que visam o lançamento de golpes armados que tirem ao Povo Açoriano as liberdades já conquistadas. Aqui na Terceira, não conseguiu ainda formar esses grupos, dada a maior implantação das forças progressistas e a consciência política do Povo Terceirense. No entanto arranjaram um grupo terrorista e fascista para os apoiar – o MRPP que, sábado dia 35/5, realizou o seu comício em Angra.

Teófilo Braga
Correio dos Açores, 31556, 27 de junho de 2018, p.16

domingo, 24 de junho de 2018